NOSSA HISTÓRIA
Nasci no Brasil, em São Paulo, mais especificamente no bairro do Brás e minha família é italiana. No entanto, a minha "italianidade" vem de meu lado paterno, pois meus avós maternos, ainda que italianos, não conheci, enquanto convivi intensamente com Margarida e Ignazio, que vieram de Polignano a Mare (Puglia), em busca de um sonho: fare l´America.
Sou a primeira neta... imagine o que isso significa numa família italiana. Meus avós se instalaram no Brás, em uma rua onde todos os moradores eram do mesmo vilarejo italiano. E lá, tive a sorte de passar minha infância. As primeiras músicas que ouvi foram le canzonette napoletane que meu avô amava cantar; meu lanche da tarde era um bel pezzo di pane, pomodoro ed olio d´oliva... Com sorte e contando com o bom humor de minha nonna, ainda ganhava mezzo bicchiere di acqua e vino.
Todos os dias ao cair da tarde, as mulheres da rua Assunção colocavam suas cadeiras de assento de palha na calçada e enquanto olhavam seus filhos brincarem na rua, tricotavam suas lãs e as vidas alheias... Velhinhos saudáveis, jogavam truco no bar da esquina e bebiam vinho. Minha avó não me deixava jogar bola com os meninos.Ai de mim! Subia pelas flores de ferro do portão da entrada de casa até chegar ao alto e de lá via a vida daquelas pessoas se desenrolar diante dos meus olhos ávidos por compreender o que havia de tão diferente e de tão igual entre elas e os professores e alunos de minha escola. A língua que falavam? Duas. Uma, todos entendiam, a outra só nós entendíamos. A comida? Algumas todos comiam, outras, só nós conseguíamos comer - ainda não se tornara fashion a ethnic food - e certas iguarias, como o famoso guimirelle, um espeto de fígado envolto em banha rendão e folhas de louro, assado na brasa, exigia paladares, no mínimo, experientes...
Mas quem éramos “nós”? Quem era “eu”?
Naquela época tinha cinco anos e essas imagens do Brás são minhas primeiras memórias. Cresci e comecei a perceber que a minha identidade era singular, produto de uma Itália mítica, construída pela imaginação de meus avós e parentes e um Brasil utópico, um algo ainda a ser realizado. Cresci e vivo em um sonho do que nunca foi (a Itália mítica) e do que nunca será (o Brasil utópico imigrante): esta é a minha identidade e sobre este alicerce construo minha vida. Com o passar do tempo, percebi que “eu” também era o “outro” e que muitos seres nesta colcha de retalhos que é São Paulo, viviam também no coração de um sonho muito parecido com o meu e, como eu, não tinham a oportunidade de vivê-lo como desejavam.
NOSSA ESCOLA É UM CANTINHO DA ITÁLIA
Assim nasceu a Aliança Cultural Italiana: de um sonho. Mais do que uma escola, a Aliança é um centro onde a língua e a cultura italianas são estudadas num ambiente que proporciona a convivência entre pessoas que se identificam com tudo que a Itália possa significar para o imaginário brasileiro. Logo, temos alunos que nos procuram porque querem aprender a língua dei nonni, os pratos da cozinha della nonna, o modo de ser daquela gente sofrida e ao mesmo tempo tão pronta para simplesmente “ser feliz”. Há outros também que impulsionados pelo amor à arte, desejam conhecer mais a Itália de Michelangelo, de Verdi ou dos grandes designers; outros ainda, desejam obter a cidadania italiana e nos procuram para realizar este sonho. E, finalmente, há aqueles que por pura paixão querem simplesmente perambular pelas suas vielas e para isso, nos procuram para aprender um pouco sobre a língua, história, costumes e gastronomia italianas.
A Aliança Cultural Italiana não é apenas uma escola; é antes de tudo una vera casa italiana che accoglie tutti gli amici - non alunni - con un bicchiere di vino e le braccia aperte.
Rosana Labbate
Diretora e fundadora da Aliança Cultural Italiana
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